sexta-feira, 29 de julho de 2022

A Origem dos Iberos

Primeiramente, é preciso esclarecer os dois termos, ou nomenclaturas que precedem os modernos “Portugal” e “Espanha” (também Andorra e parte da França pirenaica).

Atapuerca, em Burgos, região de Castilla y León, onde estão localizados os depósitos, jazidas fossilizadas que são o registro dos primeiros europeus, de 1,2 milhão de anos, também do Pleitoceno – vestígios do Homo Antecessor e dos Neandertais, pode ser considerada o embrião dos povos destes países. Bem como as pinturas rupestres das covas de Altamira na costa cantábrica, hoje patrimônio da UNESCO.

Ibéria era o território, chamado pelos gregos, que estava situado além dos Pilares de Hércules (atuais rochas Ábila e Gibraltar, que separam a península da África, com seu estreito de mar de 13 quilômetros). O historiador Heródoto cita o topônimo “Ibéria” e o geógrafo Estrabão refere-se à área costeira entre o rio Ródano e o atual Ebro, até os Pirineus. Na mitologia, Hércules teria tido dois filhos, Keltus e Iber, que dariam origem aos povos celtas e iberos, respectivamente, povos que viriam a se fundir, gerando os celtiberos, que habitavam o local antes da romanização.

A origem dos iberos tem divergências, dentre as teorias, três explicam possivelmente de onde vieram. A primeira afirma que seriam povos natos da Europa Ocidental, cujas semelhanças com os antepassados dos escoceses teriam evidências nos instrumentos fabricados durante a cultura megalítica, sobretudo os encontrados em Portugal.  A segunda, afirma que teriam vindo do Cáucaso passando pela Europa central. Já a última hipótese diz que surgiram no norte da África e possuíam parentesco com os berberes. As teorias diversas sempre entram em conflito, exaltadas as hipóteses dependendo da intencionalidade de quem as diz, os que tendem a aproximar a cultura hispânica da Mediterrânea, preferem a versão de que eram parceiros dos fenícios e teriam uma suposta unidade com o Norte da África, já os mais europeístas, preferem afirmar que eram parentes dos celtas. Este último povo mencionado, conhecido pela farmácia e magia e os lendários druidas, se tem registro de que seu berço foi em uma região da atual Áustria, também não se sabe ao certo, outras teorias apontam o Cáucaso, em um local que se estenderia até a Turquia. Então, os celtiberos seriam a fusão dos povos indígenas do continente, relembrados pelos nacionalistas ibéricos como os verdadeiros habitantes da península, antes desta ser romanizada. O único que podemos afirmar com exatidão quanto ambos povos, é que pertenciam ao tronco indo-europeu (embora alguns afirmem que os povos palehispânicos eram do tronco basco, tornando-se indo-europeus apenas depois da miscigenação com os celtas).

Na Idade do Bronze, desenvolveram a cultura Hallstatt. Sabe-se que louvavam o touro, animal símbolo até hoje da cultura ibérica, e tinham rituais fúnebres, como aqueles em reverencia à deusa Dama de Elche, do qual foi encontrado um busto enigmático para a arqueologia em 1897 na região valenciana.

Antes mesmo dos registros dos historiadores gregos, os habitantes da península mais ocidental da Europa eram conhecidos como Tartessos, mencionados inclusive na Bíblia (que foi escrita muito tempo depois, obviamente), seria uma região rica em ouro. Lívio referia-se aos Iberos como inquietos e aventureiros, e há quem afirme que teriam um suposto parentesco com os gregos (porém não é reconhecida como oficial esta teoria).

Na mitologia, também dizem que a cidade de Lisboa foi fundada por Ulysses, Odisseu teria estado no que viria a ser a Lusitânia. Luís Vaz de Camões menciona tal história reproduzida com toques de nacionalismo pelo povo, em seu poema-mor.

            A conquista romana do território inicia-se em 218 a.C, contra os cantábricos (descendentes dos celtas que vinham da região de Santander). Para os latinos, como Plínio, “O Velho”, a península foi chamada de Hispânia, que significa “terra de coelhos”, por ter uma população abundante do animal (existe a versão do nome não latino, ser de origem fenícia “I-span-ya” – “terra do norte” – ou seja, ao norte do império talassocrático fenício do Mediterrâneo) e era dividida em duas províncias; a Ulterior e a Citerior, sendo a primeira, a região da Lusitânia (atual Portugal) e a última, a Tarraconense. Posteriormente, alguns também consideram a Mauritânia Tingitana, em território africano, chamada de Hispânia Transferata.

Uma região conhecida como Hispânia Nova foi rebatizada como Galécia (atual Galícia) – Finisterra é o ponto mais ocidental da Espanha e do continente europeu, faz parte desta província (sem contar as ilhas do Atlântico) – Significa “Fim da Terra”). Desde então, os termos “ibérico” e “hispânico” designam-se tanto ao português quanto ao espanhol modernos, e hoje, também para seus descendentes mundo afora. Portanto, neste livro, serão utilizadas ambas nomenclaturas como sinônimos, não diferenciando a cultura lusa, e posteriormente a brasileira, destes últimos.

A heroica resistência de Numância (em Soria) às tropas romanas, que preferiu o suicídio coletivo a capitulação no século II a.C e o lendário Viriato, podem ser indícios de bravura ibérica contra um invasor estrangeiro, mas tão pronto, esses celtiberos seriam incorporados às legiões de Púbio Cornélio (o Cipião) em um processo de conversão ao modus vivendi romano que durou quase dois séculos para a conquista romana de toda a península.

Durante as Guerras Púnicas contra Cartago (entre os anos 264 a.C e 146 a.C), os romanos finalmente vencem Aníbal com ibéricos já romanizados em suas fileiras, sob o comando do grande Cipião, o Africano. A influência cartaginesa se dá principalmente na atual província de Cartagena, que pertenceu à Cartagonova. Outra resistência heroica contra tropas foi a de Sagunto, também na região valenciana, sitiada por Aníbal, o povo preferiu incendiar todos os vilarejos para evitar a escravidão.

Da Hispânia tivemos grandes pensadores e estadistas no império romano, o modo de vida estoico, de Sêneca, originário de Córdoba, em 4 a.C, tutor de Nero, em muito se pode dizer que faz parte da forma de ser do português e do espanhol, tendente a um ceticismo que procura ver a vida pela simplicidade e a prudência, trazendo para si a negação da desmedida, o que por um bom tempo foi um empecilho à adesão do estilo de vida consumista capitalista. Também destaco Trajano, nascido em 53 d.C, o imperador que mais expandiu o estilo que se iniciou no Lacio (Latium) por Rômulo às mais longínquas partes do planeta, conquistando da Gália à Armênia, às portas da Pérsia, no período de mais esplendor do império, ele era do que seria o atual sul da Espanha. Foi na península também onde se decidiu a guerra civil entre Pompeu e César, dando início à Roma como império, pondo fim à república, com Otávio Augusto após o assassinato de César.

            Pode-se dizer que muito antes da miscigenação nas Américas, os hispânicos já fundiram a sua cultura e incorporaram elementos dos demais povos que ali passaram. No decorrer de todos aqueles anos, fenícios, cartagineses, todos tipos de impérios comerciais talassocráticos do Mediterrâneo e após a queda de Roma, visigodos (que vinham do Báltico, ou há quem diga que surgiram na Suécia), suevos (estes eram germânicos) e por fim, árabes e judeus, formaram os espanhóis e portugueses modernos.  O ibérico pode tanto ter o fenótipo semita quanto nórdico, considerado o universo multicultural e étnico mais diverso da Europa ocidental, muito exótico a um inglês bretão ou um escandinavo de cultura mais homogênea, seriam os ibéricos um povo semelhante aos balcânicos e eslavos, assim muitas vezes nem considerados “europeus” de fato, por conta do pé no oriente que possuem.

San Isidoro de Sevilla, bispo, expressou em seu célebre Laus Spaniae um espirito mítico fundador das terras de Espanha: “De todas las tierras que se extienden desde el mar de Occidente hasta la India, tú eres la más hermosa; Oh! Sacra y siempre venturosa España, madre de príncipes y pueblos”. O bispo de Sevilla, local que já foi a antiga Hispalis, cuja lenda diz ter sido fundada por Hércules sobre a ocupação dos fenícios, criou um mito fundador do espanhol como sendo a fusão dos godos com a sociedade pré-romana, o que eu também acrescentaria os mouros de Tariq, em termos culturais, pois considero a religião oficial a católica ou cristã em geral, em face dos “estrangeirismos” muçulmanos que não fazem parte da cultura ocidental. O ocidente foi forjado a partir do oriente, mas seria uma canalhice histórica querer tratar dos povos ibéricos como simplesmente “mouros cristianizados” esquecendo da questão gótica e romana. Desde o III Concílio, a atividade dos bispos era popular, homens da gente comum, que desempenhavam um papel do confessionário tratando da saúde mental das pessoas muito antes da psicanálise de Viena, e o registro das atividades nacionais, bem como o embrião do patriotismo, estava nas descrições nacionalistas feitas por muitos religiosos, foi Isidoro quem cunhou os nomes que viriam a ser as regiões (incluindo o atual Portugal), seriam estes: Bética, Lusitania, Gallaecia, Cartaginense, Tarraconense e Narbonense.

A origem controversa de Don Pelayo ainda é motivo de discórdia. Para alguns, seria de linhagem visigoda, mas recentemente o pontam como um caudilho astur, povo que dá o nome a região de Astúrias. Fato é, que houve uma certa aliança de ambos, e Rodrigo, o rei dos visigodos, heroicamente resistiu à traição de Julião, este que levou as tropas árabes de Tariq para além de Gibraltar. Hoje se tenta fazer um revisionismo visando “orientalizar” a Península Ibérica, sobretudo a Espanha, legitimando-a como um califado para grupos islâmicos, sendo que embora seja inegável a contribuição na cultura, idioma e nos genes do ibérico dos filhos de Alá, tanto a religião quanto o modus vivendi e cosmovisão latino-ibérica, são tão ocidentais quanto as de qualquer país do norte. Ora, não podemos dizer que a Grécia, berço da civilização ocidental é um país “oriental” hoje devido às invasões turcas-otomanas, muito embora atualmente sejam cristãos ortodoxos, igual aos povos do leste, porém sem dúvidas há um elo entre os romanizados antigos e os bizantinos, as tentativas de “islamizar” o ocidente são atitudes políticas e militantes, não necessariamente de “verdades” empíricas averiguadas.

Al Andaluz, a Pérsia e Bagdad eram as zonas mais culturais do Império Islâmico, incorporaram elementos da cultura grega na Espanha e também persas que vinham do atual Irã. Desenvolveram o papel (papiro, bem como na China e no Egito) os números indo-arábicos, que foram fundamentais para a ciência. É errôneo achar que a composição étnica de Al Andalus era homogênia, dentre eles apenas a elite era realmente árabe, pois entre seus súditos se encontravam magrebinos do Saara, além de descendentes da Cartago fenícia, já islamizados, judeus e até eslavos do leste da Europa. Promoviam o que chamam de Razias, ou aceifas; ataques surpresas e destruição de cidades cristãs, mas é verdade que também conviveram simultâneas as culturas, como em Toledo, onde tais incursões destruidoras tiveram tréguas por séculos, até a Reconquista cristã da Península, que começou partindo do norte. Escritores como Ortega y Gasset criticaram a noção de “Reconquista”, pois a um processo de quase oitocentos anos não caberia tal denominação, como algo penado previamente, sendo a cultura moura assimilada na ibérica posteriormente. O escritor de “España Invertebrada” também tece crítica aos germânicos na Espanha, que o maior erro de Roma foi transferir a tal povo a herança do império, porém devo destacar que se não fosse os visigodos que tomaram o cristianismo na Reconquista, Portugal e Espanha hoje seriam califados assim como fizeram com o Constantinopla (Turquia), Irã (que já foi a Pérsia) e a Fenícia (atual Líbano) – pois os próprios abássidas e omiadas criaram um emirado com capital em Córdoba, que era independente de Damasco.

Reconhecemos a Batalha das Navas de Tolosa, de 16 de julho de 1212 o início da formação da hispanidade, quando seus combatentes cristãos começam a invocar Santiago, patrono da Espanha. Nesta ocasião, a dissolução da centralização do império islâmico em Córdoba deu origem às taifas, pequenas organizações, quase que partidos árabes, que constituíam uma espécie de municipalismo, resultando em locais que são hoje Zaragoza e Valência por exemplo.

É necessário se escrever gramáticas que ilustram a origem dos povos, não pela tentativa de se criar mitos fundadores, a justificativa dos nacionalistas delirantes em se inventar tradições ou heróis para assim manter populações coesas.

FONTE: VEGA, David “A Hispanidade para o Mundo Lusófono do Século XXI” (2021).

quinta-feira, 28 de julho de 2022

A Qué Llamamos España - Pedro Laín Entralgo

Pedro Laín Entralgo nació en Urrea de Gaén (Teruel) el día 15 de febrero de 1908. Fue psicoanalista y químico, pero también un gran erudito que estudió antropología y realizó trabajos importantes sobre España. El tema de las dos Españas siempre fue su preocupación, una vez que el país desde el siglo XX estaba dividido y las consecuencias más grandes venían en el comienzo de la Guerra Civil (1936-1936). En este vídeo hablo un poco de su persona y su obra.


A Rebelião das Massas - José Ortega y Gasset

José Ortega y Gasset foi o autor que escrevia na Revista de Ocidente, pensador expoente da Generación de 1914, menos conhecida que a de 1898, mas fundamental para entender o processo de racionalização na Espanha, sendo ele figura que orbitou no liberalismo, este, visto pela ótica considerada por alguns como “elitista”, mas de fato, um grande defensor dos “aristos”, os melhores, que compõe a minoria dos povos e é uma resistência à ditadura da maioria, às massas imperantes destruidoras, como ele aponta e trabalha no seu célebre “A Rebelião das Massas”.

Suas influências estão na filosofia alemã, hegeliana, neokantiana e até em menor grau, weberiana, embora tenha se posicionado em favor das democracias na Primeira Guerra Mundial contra o império alemão do Kaiser. O fim da Grande Guerra propiciou a sociedade de massas, a propaganda de massa, a cultura massificada; meios de comunicação como o rádio e o Cinema, além dos movimentos políticos do homem massa, o objeto de estudo de Ortega.

Os aristos seriam os mais virtuosos, dotados da “virtú”, é a elite intelectual que anula as grandes massas, o conceito de elite sociológico, não a burguesia materialista, mas aquela da cultura erudita, ameaçada pelos grandes coletivismos. A condição do homem massa não se dá pela sua posição social, ele pode ser massificado e alienado mesmo dentro da minoria rica de um país, dentro da burguesia ascendente se encontram vários, e em uma sociedade mensurada pelos bens materiais, não são os verdadeiramente mais espiritualizados no sentido de elevados, de virtuosos até, os que ocuparão as lideranças, pois é a sociedade do homem ordinário e comum, massificado, que mudou a lógica das estruturas.

A nobreza também não está relacionada à condição social e material. A incultura não é exclusiva de uma classe social apenas, bem como os de espírito aprimorado. Tanto os fascistas quanto os comunistas eram produtos do homem massa, indiferentes ao melhor que as culturas produzem, os coletivismos negavam as tradições, indiferentes também à democracia dos mortos, àquilo que funcionou e se manteve conservado durante várias gerações (as democracias representativas modernas tem o aspecto massificado também). Daí temos pessoas progressistas que negam o lado positivo da tradição, pela ideia infantil e caricata do conservador. O homem massa não questiona a si mesmo, nem seu papel ou funcionalidade na sociedade, como se as coisas “sempre foram assim”, sem enxergar além de seu círculo, significando o mundo a partir de sua condição, sem alteridade e capacidade reflexiva de se ver por diferentes óticas. Os coletivismos sempre foram uma ameaça ao mundo livre liberal, o homem massificado aceita perder a sua individualidade em nome de uma massa, tragado e anulado pelo coletivo. É a falsa liberdade! A verdadeira liberdade não é aquela que nos é concedida por uma centralidade, um Estado. É a autonomia daqueles que criticam inclusive o contrato social do Rousseau ou as prerrogativas marxistas.

O homem massa tem uma espécie de Logofobia, qualquer indício de transcender a sua condição animalesca, de racionalizar sobre algo, ele rejeita, escravo das paixões e dos sentidos. Ortega y Gasset é talvez o maior nome da literatura da hispanidade contemporânea, e aqui, seguindo seus ensinamentos para prezar o Logos e aquilo que podemos aprimorar, sem jamais rejeitar o popular, sem opô-lo ao erudito, falsa oposição da discussão sobre cultura, deixo um vídeo onde comento sobre a sua mais famosa obra:

quarta-feira, 27 de julho de 2022

Qual a visão de Brasil e América Hispânica que temos?



É preciso sempre deixar bem claro que nossa iniciativa é meramente um movimento CULTURAL. Quando dizemos que o Brasil se insere no universo hispano, nos referimos às suas raízes ibéricas que não veem diferença entre Portugal e Espanha no além mar, também da tradição católica e do modus vivendi. Porém jamais queremos dizer com isto, que nossa organização defende a aniquilação do Brasil enquanto nação soberana, reconhecemos e prezamos pelo Estado brasileiro independente, a aproximação com a Ibéria é cultural e filosófica, e não política ou administrativamente. O Brasil é uma nação independente desde 7 de setembro de 1822 e uma república desde 15 de novembro de 1889, e assim respeitamos. A pátria que acolheu nossos antepassados, meu próprio pai imigrante, por mais que culturalmente seja pertencente à iberoesfera, não pode nunca perder a sua soberania. Espanha e Brasil, assim como Portugal, são nações irmãs e na base da amizade devem construir um futuro em conjunto para dar soluções ao mundo ibérico, mas cada qual com a sua respectiva autonomia. As fronteiras que visamos derrubar são simbólicas, as nações em questão têm suas leis próprias, modelos representativos, formas e sistemas de governo e representantes legítimos, eleitos ou por direito de sangue (no caso da Espanha sendo monarquia, apesar do chefe de governo, o cargo de primeiro ministro, ser através do voto) e isto será respeitado, a autodeterminação dos povos e o Direito à liberdade e a plena exploração de suas potencialidades dentro de seu respectivo território, sem ultrapassar a linha limítrofe que nos divide ou o oceano que nos separa. Também o respeito aos símbolos nacionais, como as cores, bandeiras e selos que são os legítimos representantes de seus respectivos povos.

A União Ibérica de 1580-1640 é interpretada por nós como mero passado saudosista, e utilizado ilustrativamente para simbolizar essa união de povos irmãos e nações forjadas pela latinidade no além mar, e não na tentativa de se formar um novo império deixando submissa a nação brasileira ou qualquer outra república da Hispanoamérica. Tecemos críticas e elogios aos caudilhos como Bolívar, Martí, San Martin, Artigas, O´Higgins e D. Pedro I, mas reconhecemos seus esforços e as nações independentes que eles forjaram, pois mesmo assim, jamais romperam o cordão umbilical com a madre pátria, esta, que nos serve de norte como inspiração e não metrópole.

Que fique claro esse intento de união cultural e não administrativa, pois somos patriotas ao Brasil, sendo assim, embora reconhecemos a importância das nações que o formaram, os povos nativos, bem como os africanos transplantados e demais imigrantes nacionalizados fazem parte de nosso povo, ao qual gostaríamos de reverenciar e pertencemos. Isto é também a hispanidade, a salada de povos que se fundem e as múltiplas nações que geraram e comunidades pelo mundo (sobretudo dos Estados Unidos que tem uma das maiores).

Viva o mundo lusófono, a Lusitânia ou a Ibéria confederada (culturalmente) e a aproximação pela amizade de toda nossa América! Deixemos de lado o projeto imperialista do bolivarianismo que sequestrou a figura de Bolívar e a deturpou, para uma América de cooperação econômica pelo mercado comum Mercosul, porém também espiritual, que encontre seu caminho na latinidade pela diversidade e uma unidade fraterna de várias soberanias cada qual em seus países livres, sem subserviência, com autonomia de suas Constituições e legislação, justamente o que o projeto centralizador bolivarianista e do Foro de São Paulo querem destruir - há de se tomar cuidado com as organizações supranacionais.

Promovemos a aproximação cultural, o único movimento que deve estar acima das fronteiras, e nenhum projeto imperialista seja de qual ordem for!

Brasil - A Nova Roma dos Trópicos

A América é uma continuação da reconquista que aconteceu na Península Ibérica. Sendo assim, o Brasil surge nesse contexto. Darcy Ribeiro defendia o conceito de “Nova Roma”, a latinidade nos trópicos. O movimento Hispanidade BR considera a tradição brasileira como hispânica também, uma vez que não há como se fazer uma distinção entre Portugal e Espanha, sendo a lusitanidade parte da iberoesfera e hispanoesfera. Confira o argumento no programa radiofônico, o podcast abaixo:

A Hispanidade para o Mundo Lusófono do Século XXI - Vídeo Promo

A Hispanidade para o mundo Lusófono do Século XXI - Livro - David Vega

 


CLIQUE NA IMAGEM PARA FAZER O DOWNLOAD DO LIVRO EM PDF.



Em 1494, através do Tratado de Tordesilhas, as duas maiores nações da Ibéria dividiram o mundo. Embora Portugal se lançou ao mar através da facilidade de sua saída ao Atlântico por conta da suposta ameaça de Castela, é sabido que ambas culturas sempre foram uma única; o amálgama de povos de um tronco comum, identitários que lutam por uma unidade na diversidade. Após as coroas se unirem em torno de Felipe II, como uma só nação, a península foi dona do globo terrestre. O Brasil como entendemos surge à sombra desta união, resultante de uma cultura transplantada que inventou nações e criou uma nova gente, uma população de todos os fenótipos, incorporando elementos nativos da América e da África em uma reedição da cultura hispânica, uma raça cósmica, aliançadas pelos idiomas de Camões e de Cervantes, compondo o universo ibero-americano que é uma nova Roma, a latinidade nos trópicos.

Neste livro, defendo o mundo lusófono, por consequência o Brasil, como sendo parte do movimento hispanista idealizado pela Geração de 1898, alguns de viés pessimista, outros nacionalistas exacerbados, porém nos seus particularismos deixaram etnografias que hoje nos faz repensar o papel da América Luso-Hispânica do século XXI.

Orelha:

Este que vos escreve é natural de São Paulo de Piratininga, terra de Anchieta. Filho de pai espanhol, nascido em Leon, no pueblo Huerga de Frailes, muito próximo à região da Maragatería (Astorga) – província que já foi palco da Legio VII Gemina romana e um reino independente, uniu-se com a velha Castilla e tem seu escudo presente na bandeira da madre pátria – e de mãe caipira, do interior do estado insurgente que forjou o Brasil e seu território. Da fusão de dois mundos que se complementam eu vim, e desde pouca idade jamais consegui separar a cultura hispânica paterna da luso-brasileira materna.

Neste livro, explico com exemplos históricos e antropológicos o motivo pelo qual considero a Iberia uma coisa una, por consequência, a América de além mar, partes da África e as antigas possessões na Ásia, também teriam o mesmo destino; são crias da velha península que transplantou sua cultura ao redor do globo – “Não há pedaço de terra no planeta sem uma tumba ibérica” já diz o ditado.

Faço um retrato sociológico dos rostos de todas as cores e credos incorporados à latinidade, que hoje falam as línguas de Camões e Cervantes, produzindo um mundo peculiar ligado por um cordão umbilical que jamais se rompeu. Em tempos que se falseiam a História, rejeitando tudo o que lembra a narrativa do “conquistador”, o decolonialismo pode se contrapor ao imperialismo ianque atual, mas jamais negar o sangue e a alma das nações que nos forjaram.

Não trato da Hispânia (como chamavam os romanos) apenas como um local, mas sim uma unidade de espírito, o norte que agrega o melhor de todas as raças formando um novo gentílico, cósmico, capaz de contribuir para sociedades que se padronizam, através de sua cosmovisão herdada de uma gente guerreira, nobre, aristocrática, não no sentido pejorativo do termo, mas de um povo que ainda tem uma psiquê que nos remete ao mundo antigo, à capacidade de ser filósofo-artista e soldado, resistente ao dinamismo da pós-modernidade, mesmo que tal manifestação ocorra de forma inconsciente. E é justamente esta qualidade de “cavaleiro andante”, de não se atar às regras e ao trabalho alienante, de ser questionador e eterno rebelde presente no ibérico que pretendo valorizar neste manifesto.

Divulgação do Livro:



A Hispanidade para o Mundo Lusófono é uma proposta feita através de uma argumentação sociológica, antropológica e histórica sobre a grande Ibéria e seus desafios para o século XXI. Uma federação nos moldes constitucionais que respeite a autonomia de seus particularismos, seria plenamente possível entre as duas nações da velha península de além mar para o século XXI, e diria ainda mais, para a Hispano-américa (incluindo o Brasil) e toda a iberosfera. Não é a defesa de submissão às antigas metrópoles, mas uma união cultural, com cada país, seja monárquico ou republicano, exercendo a sua soberania. Remover fronteiras não significa a dissolução de poderes locais!

Para tanto, justifico a visão de um universo ibérico não centrado em uma raça em específico, dado a complexidade de povos que formaram Portugal e Espanha e os demais que foram incorporados em seus antigos virreinatos (vulgarmente chamados de colônias). José Vasconselos já falava que o mestiço é uma “raça cósmica” (leia-se o temo referente à cultura também). Viriato, o expoente herói da Lusitânia, é herói em Espanha também, pois suas tribos eram do tronco celtibero que depois da romanização, trouxe a face dos filhos de Netón às legiões que mais tarde, já cristianizados, visigodos e suevos anexariam com a queda do império e a ascensão de Alarico. Vale lembrar, que entre os mouros que cruzaram Gibraltar, depois de uma traição e disputa interna entre os visigodos, vários povos compunham os exércitos de cimitarras baixo uma elite árabe, porém entre eles, até eslavos do leste e descendentes dos persas haviam. A Reconquista que se concluiu em 1492 teve a sua continuação após as descobertas de Colombo e Vespúcio quando se iniciou o povoamento das Américas pelos ibéricos. Se em 1494 o mundo foi dividido entre esses dois povos irmãos, o cordão umbilical da Ibéria nunca foi rompido, apesar de disputas inclusive em solo brasileiro entre bandeirantes e jesuítas, ou os insurgentes que se levantaram contra Felipe II. Rivalidades à parte, o tipo de colonização português teve características muito similares ao espanhol, dando uma espécie de unicidade entre os falantes dos idiomas de Camões e de Cervantes. Nos Lusíadas é mencionado na epopeia de Vasco da Gama, o navegante, como herói das duas Espanhas! Ambos povos fruto da fundição de raças que gerou um amálgama inquebrantável, preservando o melhor de cada etnia, o rosto amorenado do gaúcho, cujas origens maragatas tem influencias árabes e indígenas, com vestimentas da região da Maragatería, em León. Também dos mamelucos paulistas no início da Capitania de São Vicente; bandeirantes como Bartolomeu Bueno da Silva, ou o próprio Anchieta, nascido nas Ilhas Canárias embora sua origem fosse basca. A antiga Filipéia, capital da Paraíba antes de se chamar João Pessoa, o nome era homenagem a Felipe II. Como a noção do V Império do Padre Antonio Vieira também era uma espécie de Hispanidade, o ideal da Latinidade de uma Nova Roma. A cultura hispânica, e leia-se, de ambas nações, pois aos romanos a Hispânia era toda a península, deixou marcas não só no estilo das casas bandeirantes, que se assemelham às de adobe em Quito e as de Bolívar na Grã-Colômbia, como no nosso palavreado local, o “Oxente” do baiano, de influência galega, como produziu diversas figuras de nossa História.

Também abordo no livro as estruturas que herdamos inclusive da Ibéria medieval em solo nacional, não apenas explicando a hacienda da hispano-américa, bem como a Casa Grande e sua união com a senzala, exemplificada por Gilberto Freyre (que é nome referência ao estudo do hispanismo no Brasil) e as relações de compadrio que se assemelham ao comitatus dos visigodos. O FOEDERATI, berço da noção de federação que temos, já era praticado por esse sistema de fidelidade, a FIDES, onde unidos por um mesmo sangue, senhor e servo se reconheciam como primos ou parentes, embora houvesse distinção social, e no livro não tenho a intenção de manter velhas estruturas arcaicas, mas trazer ao estudo uma característica comunal que forjou uma peculiaridade inclusive ao nosso capitalismo e relações de Estado, fundindo o público com o privado e pouco afeito à impessoalidade, a crítica é primordial. Curioso é conseguirmos identificar essa estrutura de sociedade nos interiores do Brasil antes da urbanização, mesmo entre povos miscigenados marcados também pelo escravismo, o que nos prova que é possível dar uma brasilidade e hispanidade ao povo de toda América de línguas latinas, independente do fenótipo de seus filhos. Darcy Ribeiro já apontava a prática do cunhadismo, do qual João Ramalho e Caramuru são figuras ícones.

Pensei que era imprescindível escrever algo sobre o tema, sendo eu um exemplo dessa integração de nações e continentes irmãos; sou filho de pai espanhol e de mãe caipira, que metaforizam a união de povos siameses com os rostos opostos, porém na contemporaneidade, se reconhecem muito mais nas convergências do que nas ideias que há anos vem tentando separar-nos, importando tudo o que vem de Paris e Londres. Somos a união da Malinche com Cortez, e um não precisa anular o outro! O uso da Leyenda Negra por parte dos inimigos de Castela é abordado no livro também, explico como Guilherme de Orange da Holanda, ainda nas guerras entre protestantes e católicos durante o reinado de Carlos V, forjou narrativas contra a Inquisição, depois iriam anexar os relatos particularistas de Bartolomé de las Casas e dos filhos de Francis Drake, os ingleses, aplaudidos pela rainha, que martelaram contra a madre pátria por séculos. Tal prática seria usada depois pelo Big Stick estadunidense visando sua influência sobre o continente, principalmente depois da derrota da guerra hispano-americana de Cuba, em 1898.



Trago à discussão uma outra versão da chegada dos primeiros europeus modernos ao Brasil, em que Vicente Yáñez Pinzón, irmão de Marin Alonso, que esteve nas caravelas de Colombo, teria chegado ao Cabo de Santo Agostinho no litoral pernambucano, antes de Cabral aportar em Porto Seguro (o que não invalida a figura de Cabral como o precursor do que entendemos de Brasil hoje). O sebastianismo é descrito também, este tem características peculiares em nosso solo, e tal movimento só foi possível depois do desaparecimento de Dom Sebastião, tendo como consequência a União Ibérica (1580-1640). O caso da nossa Amazônia, em que Francisco de Orellana foi o primeiro a navegar, mas o português Pedro Teixeira foi o primeiro a fazer o percurso completo. Provando que tal território é soberano e do Brasil! Bem como as partes que ocupam nossos países vizinhos também lhes pertencem, e não a nações que visam toma-las de nós. A disputa que se terminou com o Tratado de Madrid (1750) não se dá mais entre portugueses-brasileiros e hispânicos irmãos, mas entre interesses de povos do mundo inteiro que usam ideologicamente antigas feridas entre povos de uma mesma origem, única e exclusivamente para dividir e assim conquistar.

O primeiro evento que nos marca como nação, ainda no Brasil colônia, quando expulsamos o invasor batavo, mostrou um exemplo de brasilidade! Onde mamelucos, cafusos, brancos, negros, portugueses e hispânicos que aqui viviam, foram comandados pelo general negro, Henrique Dias, e assim se iniciou a vontade de um povo diversificado, que anos mais tarde viveria unido baixo uma mesma bandeira.

Além do caráter histórico do livro, faço um aparato de observações e algumas conclusões e propostas para que reinventemos nossa Iberosfera, seja na América, na Península, em África ou Ásia, e para todo descendente que viva em algum país não latino também, independente de seu idioma ou aparência, pois sempre irá pertencer à família da latinidade. Não digo que o socialismo nos moldes bolivarianos seja a solução, trazer um falso nacionalismo e uma leitura dos nossos heróis do passado falaciosa só prejudica nossa posição no mundo em nome de doutrinas execráveis! A liberdade é fundamental, mas em uma época de múltiplos polos, também precisamos preservar nossas instituições democráticas sem perdermos nossa característica cultural. O Brasil e nossos países vizinhos sempre foram vistos como “vira-latas” aos olhos dos preconceituosos, e chegou a hora de assumirmos para o mundo com orgulho o que nós somos, deixarmos de ser estrangeiros na nossa própria terra, desterrados na nossa própria pátria. A hispanidade e junto, a portugalidade, é também a africanidade e o indigenismo, todos juntos, na construção de um continente unido, que irá contribuir para o planeta com seus particularismos, sem separatismos, sem anular o todo – a unidade na diversidade!



 

Qual a visão de Brasil e América Hispânica que temos?

É preciso sempre deixar bem claro que nossa iniciativa é meramente um movimento CULTURAL. Quando dizemos que o Brasil se insere no universo ...