José
Ortega y Gasset foi o autor que escrevia na Revista de Ocidente, pensador expoente
da Generación de 1914, menos conhecida que a de 1898, mas fundamental para
entender o processo de racionalização na Espanha, sendo ele figura que orbitou
no liberalismo, este, visto pela ótica considerada por alguns como “elitista”,
mas de fato, um grande defensor dos “aristos”, os melhores, que compõe a
minoria dos povos e é uma resistência à ditadura da maioria, às massas
imperantes destruidoras, como ele aponta e trabalha no seu célebre “A Rebelião
das Massas”.
Suas
influências estão na filosofia alemã, hegeliana, neokantiana e até em menor
grau, weberiana, embora tenha se posicionado em favor das democracias na
Primeira Guerra Mundial contra o império alemão do Kaiser. O fim da Grande
Guerra propiciou a sociedade de massas, a propaganda de massa, a cultura
massificada; meios de comunicação como o rádio e o Cinema, além dos movimentos
políticos do homem massa, o objeto de estudo de Ortega.
Os
aristos seriam os mais virtuosos, dotados da “virtú”, é a elite intelectual que
anula as grandes massas, o conceito de elite sociológico, não a burguesia
materialista, mas aquela da cultura erudita, ameaçada pelos grandes
coletivismos. A condição do homem massa não se dá pela sua posição social, ele
pode ser massificado e alienado mesmo dentro da minoria rica de um país, dentro
da burguesia ascendente se encontram vários, e em uma sociedade mensurada pelos
bens materiais, não são os verdadeiramente mais espiritualizados no sentido de
elevados, de virtuosos até, os que ocuparão as lideranças, pois é a sociedade
do homem ordinário e comum, massificado, que mudou a lógica das estruturas.
A
nobreza também não está relacionada à condição social e material. A incultura
não é exclusiva de uma classe social apenas, bem como os de espírito aprimorado.
Tanto os fascistas quanto os comunistas eram produtos do homem massa,
indiferentes ao melhor que as culturas produzem, os coletivismos negavam as
tradições, indiferentes também à democracia dos mortos, àquilo que funcionou e se
manteve conservado durante várias gerações (as democracias representativas modernas tem o aspecto massificado também). Daí temos pessoas progressistas que
negam o lado positivo da tradição, pela ideia infantil e caricata do conservador.
O homem massa não questiona a si mesmo, nem seu papel ou funcionalidade na
sociedade, como se as coisas “sempre foram assim”, sem enxergar além de seu
círculo, significando o mundo a partir de sua condição, sem alteridade e capacidade
reflexiva de se ver por diferentes óticas. Os coletivismos sempre foram uma
ameaça ao mundo livre liberal, o homem massificado aceita perder a sua
individualidade em nome de uma massa, tragado e anulado pelo coletivo. É a falsa
liberdade! A verdadeira liberdade não é aquela que nos é concedida por uma
centralidade, um Estado. É a autonomia daqueles que criticam inclusive o
contrato social do Rousseau ou as prerrogativas marxistas.
O
homem massa tem uma espécie de Logofobia, qualquer indício de transcender a sua
condição animalesca, de racionalizar sobre algo, ele rejeita, escravo das
paixões e dos sentidos. Ortega y Gasset é talvez o maior nome da literatura da
hispanidade contemporânea, e aqui, seguindo seus ensinamentos para prezar o Logos
e aquilo que podemos aprimorar, sem jamais rejeitar o popular, sem opô-lo ao
erudito, falsa oposição da discussão sobre cultura, deixo um vídeo onde comento
sobre a sua mais famosa obra:
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