segunda-feira, 1 de agosto de 2022

A Eutáxia - Gustavo Bueno

Gustavo Bueno foi uma das figuras mais importantes à Hispanidade. Pertenceu à Escola das Astúrias e escreveu sobre diversos temas filosóficos. Seu legado é o que chamam de “materialismo filosófico”, assim como Marx inverteu as ideias de Hegel, ele tentou fazer com as próprias ideias marxistas (um materialismo ao revés) defendendo questões que os herdeiros da luta de classes desconhecem ou ignoram.

A Eutáxia é um núcleo harmonizador, não é que parte da centralidade as coisas, mas ela estrutura a partir das partes, atomizadas ou não, é o equilíbrio das forças antagônicas da sociedade.

Não se pode explicar o líder apenas pelos aspectos psicológicos e sociológicos, mas tem o político. Não é só o carisma. Há de se ver o Desclassamento (de remover da categoria de classes). É sair do grupo e ter uma visão holística, governar para o todo.

A política de Aristóteles – bom ordenamento, boa organização. Não é apenas o aspecto ético e moral, não é a ideia de bem comum, são termos formalmente políticos. Que tenha a capacidade suficiente para que esta organização política persista ao longo do tempo. Gustavo Bueno discorre sobre o comunismo e o capitalismo, ambos seriam modelos de regimes que estariam em constante movimento, precisando, pela lógica etapista e progressista, que um estágio supere o outro sempre. A mobilidade e dinamismo anularia os axiomas e estruturas básicos para a manutenção de qualquer sociedade minimamente saudável. Não quer dizer que não se deva ocorrer a mudança e o aprimoramento tecnológico, mas este não deve comprometer a estrutura, é ela que tem que se adequar aos novos tempos, transformando-se dentro das inovações ao mesmo tempo conservando-se. A economia deve ser livre e aberta, liberal no sentido das relações de comércio, ao mesmo tempo que a sociedade deve manter instituições da cultura que a ordenam. É possível uma harmonia entre ambas. Não é manter apenas oligarquia política, preservar as elites políticas, mas a sociedade como um todo.

A prólepsis, ou proléptico, são projetos para o futuro que surgem de questões históricas, são as questões históricas que definem o futuro! Seriam as funções de processos históricos pretéritos, para planificar o futuro.

Toda Constituição tem uma ideologia e pressupostos políticos ideológicos. Ela não é neutra, tem prerrogativas do grupo social que a elaborou e domina a sociedade. A constituição mexicana, produto da revolução mexicana, construída a partir de pressupostos revolucionários muito claros, devido as invasões do país pelos Estados Unidos em 1914, 1915-16, Pancho Villa e depois Carranza na implementação da Constituição levava os eventos recentes em conta. A ideia do Estado intervir na economia de uma forma mista também. Quase um século depois Vicente Calderón quis reformar a Constituição. Isto é uma prova que ela vai se alterando mediante as demandas e ideologias temporais, é ingenuidade ou mau caratismo achar que seria neutra.

A do Brasil, saindo de um regime militar e uma constituição feita no contexto de uma abertura que priorizou as ideologias daqueles que voltaram com a anistia. O Partido dos Trabalhadores não votou pela Constituição embora a linha desde Tancredo vai desaguar no Ulysses Guimarães e a carta promulgada em 1988.

O contrário de Eutáxia é Distáxia. Nenhuma sociedade política pode sobreviver sem alguns objetivos definidos. Tem um choque entre o proléptico e a realidade, gerando a ditáquia, e daí vem o perigo de uma sociedade política desaparecer. Exemplo: Os planos quinquenais e ideologias do partido que aconteceu na URSS. Objetivos inviáveis, depois de Lenin principalmente. Tudo aquilo foi contrário ao que o próprio Marx escreveu, na Crítica ao Programa de Gotha, etc. O problema da Eutáxia não é moral, não é um juízo de valor, se fala da aplicação da Eutáxia nesse processo histórico, vendo a partir de um “laboratório” que analisa por óticas baseadas no empírico.

As ordens do poder político, executivo e de mando, não quer dizer que precede ao poder físico, às vezes se usa do poder físico, que é inerente ao ser humano e anterior às sociedades políticas. Em muitos casos precisa de um empurrão, quando a ordem se vê ameaçada, igual quando se reprime uma manifestação que pode perder o controle. É um ato de força, que tem que ser policiada também, sem que venha da centralidade desmedida é haja coercivamente suprimindo as liberdades individuais. Ao contrário, é em nome das autonomias e garantias individuais que ela deve agir.

O poder político é de longa duração, os Estados são seculares, e diferentes do poder político que é limitado e temporário. É óbvio e imprescindível que haja forças divergentes em um Estado, não existe unanimidade em nenhuma sociedade. Se um lado da correlação de forças pensa em revolução permanente no sentido de totalidade do poder, onde não pode haver oposição e não dialoga com o contraditório, ele anula a ideia de harmonia. Nenhuma ditadura é benéfica, mas há de se reconhecer que o processo brasileiro foi diferente no sentido de permitir uma oposição, o MDB, e ter uma alternância de poder, diferente das personalistas e totalitárias que se fundiam no líder e sufocaram qualquer questionamento ou oposição (como as do leste europeu). Para muitos defensores da autarquia, a ditadura, inclusive a do proletariado, para se fazer valer precisa erradicar qualquer resistência, e isto é inviável à democracia.

As confederações e organizações de grupos humanos sem Estado não podem estar consideradas sociedades políticas no sentido da política que é entendida pela Eutáxia. Seria a política aparente ou falsa política, mas não operam dentro do jogo político legalista e estatal. A nação precede o Estado, mas todo Estado tem uma nação, a política surge com o Estado nação, que pode ser imperial, um império ou a junção de vários Estados e entes federados.

Gustavo Bueno foi um nome expoente da intelectualidade espanhola mais recente. Seus apontamentos, dentre vários, podem ser entendidos aos defensores da hispanidade para uma ideia de aperfeiçoamento de seus países, sem deixar a célula máter da cultura se perder em tempos tão sombrios.

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