Gustavo
Bueno foi uma das figuras mais importantes à Hispanidade. Pertenceu à Escola
das Astúrias e escreveu sobre diversos temas filosóficos. Seu legado é o que
chamam de “materialismo filosófico”, assim como Marx inverteu as ideias de
Hegel, ele tentou fazer com as próprias ideias marxistas (um materialismo ao
revés) defendendo questões que os herdeiros da luta de classes desconhecem ou
ignoram.
A
Eutáxia é um núcleo harmonizador, não é que parte da centralidade as coisas,
mas ela estrutura a partir das partes, atomizadas ou não, é o equilíbrio das
forças antagônicas da sociedade.
Não
se pode explicar o líder apenas pelos aspectos psicológicos e sociológicos, mas
tem o político. Não é só o carisma. Há de se ver o Desclassamento (de remover
da categoria de classes). É sair do grupo e ter uma visão holística, governar
para o todo.
A
política de Aristóteles – bom ordenamento, boa organização. Não é apenas o
aspecto ético e moral, não é a ideia de bem comum, são termos formalmente políticos.
Que tenha a capacidade suficiente para que esta organização política persista
ao longo do tempo. Gustavo Bueno discorre sobre o comunismo e o capitalismo,
ambos seriam modelos de regimes que estariam em constante movimento,
precisando, pela lógica etapista e progressista, que um estágio supere o outro
sempre. A mobilidade e dinamismo anularia os axiomas e estruturas básicos para
a manutenção de qualquer sociedade minimamente saudável. Não quer dizer que não
se deva ocorrer a mudança e o aprimoramento tecnológico, mas este não deve
comprometer a estrutura, é ela que tem que se adequar aos novos tempos,
transformando-se dentro das inovações ao mesmo tempo conservando-se. A economia
deve ser livre e aberta, liberal no sentido das relações de comércio, ao mesmo
tempo que a sociedade deve manter instituições da cultura que a ordenam. É
possível uma harmonia entre ambas. Não é manter apenas oligarquia política,
preservar as elites políticas, mas a sociedade como um todo.
A
prólepsis, ou proléptico, são projetos para o futuro que surgem de questões
históricas, são as questões históricas que definem o futuro! Seriam as funções
de processos históricos pretéritos, para planificar o futuro.
Toda
Constituição tem uma ideologia e pressupostos políticos ideológicos. Ela não é
neutra, tem prerrogativas do grupo social que a elaborou e domina a sociedade.
A constituição mexicana, produto da revolução mexicana, construída a partir de
pressupostos revolucionários muito claros, devido as invasões do país pelos
Estados Unidos em 1914, 1915-16, Pancho Villa e depois Carranza na
implementação da Constituição levava os eventos recentes em conta. A ideia do
Estado intervir na economia de uma forma mista também. Quase um século depois Vicente
Calderón quis reformar a Constituição. Isto é uma prova que ela vai se
alterando mediante as demandas e ideologias temporais, é ingenuidade ou mau
caratismo achar que seria neutra.
A
do Brasil, saindo de um regime militar e uma constituição feita no contexto de
uma abertura que priorizou as ideologias daqueles que voltaram com a anistia. O
Partido dos Trabalhadores não votou pela Constituição embora a linha desde
Tancredo vai desaguar no Ulysses Guimarães e a carta promulgada em 1988.
O
contrário de Eutáxia é Distáxia. Nenhuma sociedade política pode sobreviver sem
alguns objetivos definidos. Tem um choque entre o proléptico e a realidade,
gerando a ditáquia, e daí vem o perigo de uma sociedade política desaparecer.
Exemplo: Os planos quinquenais e ideologias do partido que aconteceu na URSS. Objetivos
inviáveis, depois de Lenin principalmente. Tudo aquilo foi contrário ao que o
próprio Marx escreveu, na Crítica ao Programa de Gotha, etc. O problema da
Eutáxia não é moral, não é um juízo de valor, se fala da aplicação da Eutáxia
nesse processo histórico, vendo a partir de um “laboratório” que analisa por
óticas baseadas no empírico.
As
ordens do poder político, executivo e de mando, não quer dizer que precede ao
poder físico, às vezes se usa do poder físico, que é inerente ao ser humano e
anterior às sociedades políticas. Em muitos casos precisa de um empurrão,
quando a ordem se vê ameaçada, igual quando se reprime uma manifestação que
pode perder o controle. É um ato de força, que tem que ser policiada também,
sem que venha da centralidade desmedida é haja coercivamente suprimindo as
liberdades individuais. Ao contrário, é em nome das autonomias e garantias
individuais que ela deve agir.
O
poder político é de longa duração, os Estados são seculares, e diferentes do
poder político que é limitado e temporário. É óbvio e imprescindível que haja
forças divergentes em um Estado, não existe unanimidade em nenhuma sociedade.
Se um lado da correlação de forças pensa em revolução permanente no sentido de
totalidade do poder, onde não pode haver oposição e não dialoga com o
contraditório, ele anula a ideia de harmonia. Nenhuma ditadura é benéfica, mas
há de se reconhecer que o processo brasileiro foi diferente no sentido de
permitir uma oposição, o MDB, e ter uma alternância de poder, diferente das
personalistas e totalitárias que se fundiam no líder e sufocaram qualquer
questionamento ou oposição (como as do leste europeu). Para muitos defensores
da autarquia, a ditadura, inclusive a do proletariado, para se fazer valer
precisa erradicar qualquer resistência, e isto é inviável à democracia.
As
confederações e organizações de grupos humanos sem Estado não podem estar
consideradas sociedades políticas no sentido da política que é entendida pela
Eutáxia. Seria a política aparente ou falsa política, mas não operam dentro do jogo
político legalista e estatal. A nação precede o Estado, mas todo Estado tem uma
nação, a política surge com o Estado nação, que pode ser imperial, um império
ou a junção de vários Estados e entes federados.
Gustavo
Bueno foi um nome expoente da intelectualidade espanhola mais recente. Seus
apontamentos, dentre vários, podem ser entendidos aos defensores da hispanidade
para uma ideia de aperfeiçoamento de seus países, sem deixar a célula máter da
cultura se perder em tempos tão sombrios.
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